Notícia

#FiacineMulheres2021

O amor pelo cinema, afasta das mulheres brasileiras todos os malditos.
Por Viviane Ferreira

Escrever sobre o cinema feito por mulheres no Brasil é dar um mergulho num
processo histórico de profundas desigualdades e disparidades de gênero e raça no
campo da sétima arte nacional. Ao mesmo tempo, é reconhecer que na atualidade o
cinema brasileiro, assim como o cinema global, tem reunido esforços e criado caminhos
para enfrentarmos as disparidades de gênero e raça a frente e atrás das câmeras.
A iluminação da participação feminina ao longo da história da produção imagética
brasileira tornou-se impreterível, assim, passamos a conhecer em “plano detalhe”
histórias e trajetórias como a de Adélia Sampaio, primeira mulher negra a distribuir
comercialmente um filme de longa metragem ficcional no Brasil no ano de 1983, as
imagens de revolução de Helena Solberg e Lúcia Murat, ou a desestética do cinema de
colagem de Helena Ignez como batizou Isabel Wittmam. A realidade é que desde Cléo de
Verberena, as mulheres brasileiras tem criado imagens que dialogam em muitas direções.
Se podemos destacar uma fixação do cinema feito por mulheres no Brasil, é a
comunicação direta com a audiência, mantendo uma tradição de sucessos de bilheteria
e/ou arrebates de premiações em festivais, de O ébrio (1946) de Gilda Abreu a Amor
Maldito (1983) de Adélia Sampaio, passando por Que horas ela volta (2015) de Anna
Muylaert, sem esquecer dos curtas-metragens Cores e Botas (2010) de Juliana Vicente,
Aquém das Nuvens(2012) e Sem Asas(2020) de Renata Martins, Kbela (2015) de Yasmin
Thainá , Cinzas(2015) de Larissa Fulana de Tal, Travessia (2017) de Safira Moreira, e
chegando nas codireções de Glenda de Nicácio nos brindando com a ternura de Café
com Canela (2017) , a visceralidade de Ilha (2018) , e a intensidade de Até o fim (2020)
todas essas realizadoras e suas obras estiveram e estão profundamente comprometidas
com a comunicação com audiência em massa.
Desta maneira, ainda que a estatística nos prove que amargamos números
desiguais a exemplo de menos que 2% de mulheres negras com acesso a recursos e
meios para produções e distribuição de longas-metragens ficcionais no Brasil, a história
de amor pela arte de produzir imagens, tem regatado trajetórias femininas e fortalecido
caminhos para que juntas possamos afastar para longe de nós, cineasta brasileiras, todo
e qualquer índice estatístico maldito.